Elson ajudou a derrubar o time do coração em 2002, mas se redimiu ao conquistar a Segundona pelo Verdão e contribuir para a queda do rival Corinthians em 2007
Quanta coisa pode mudar em 20 anos? Para o
torcedor do Palmeiras, que viu o time jogar a Série B do Brasileiro em 2003,
mudou praticamente tudo.
Para Elson, que
recolocou o Verdão na elite do futebol depois do primeiro rebaixamento, também.
Hoje,
aos 41 anos, ele mora em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo. Numa
rotina bem diferente da que ele viveu por quase duas décadas como jogador
profissional de futebol – no Brasil e na Alemanha, onde defendeu Stuttgart e
Hannover por quase quatro temporadas.
Aqui
tem tudo que um ser humano procura, paz, trabalho e viver bem. Não tem
criminalidade, sinto paz, uma tranquilidade enorme. A gente vivia naquela
loucura, com aquele trânsito. Aqui eu fico até o fim dos meus dias –diz Elson.
Hoje,
o ex-meia trabalha em uma cooperativa de transporte público alternativo com
outros 30 motoristas. Diariamente, dirige cerca de 400km, indo e voltando do
centro de Boiçucanga até a última praia de São Sebastião. A equipe do Esporte
Espetacular acompanhou um dia de trabalho dele. Na cidade, tem o apelido de
"Jogador" e é reconhecido por alguns passageiros de vez em quando.
Sabia
que você está andando no carro de um jogador do Palmeiras?
Eu
sei, esse rapaz aí eu já conheço – diz um dos passageiros.
Eu
trabalho mais hoje do que na época de jogador profissional. Naquela época, era
trabalho e diversão. Eram duas horas intensivas e depois ia pra casa. Hoje é
trabalho de gente grande. São 12, 14, 15 horas por dia.
Rebaixamentos e
redenção
Nessas
voltas que a vida dá, um ano antes de jogar pelo Palmeiras, Elson foi um dos
responsáveis por rebaixar o time do coração quando jogava pelo Vitória, em 2002.
A
lembrança mais forte que eu tenho é que foi o primeiro carro que consegui
comprar. Foi depois daquele jogo, com aquela mala branca, com o dinheiro que
deram pra gente ganhar o jogo contra o Palmeiras. Mas como eu falei, não foi
muito satisfatório em termos de coração. Mas como um profissional foi um jogo
importante. Infelizmente, o Palmeiras foi rebaixado.
No
ano seguinte, veio a chance de Elson se redimir. Pela temporada de destaque,
ele recebeu algumas propostas de times da Série A.
Mas,
para desespero do empresário, preferiu realizar um sonho de criança.
Ele
falou: "Você é maluco! Vai deixar de jogar uma Série A, financeiramente
melhor?". Falei: "Mas a realização de sonho não tem preço. Eu tenho
certeza de que ali eu vou ser bem sucedido, jogar no time do coração, levar o
time de volta pra Série A. Depois a gente busca financeiramente. E foi o que
aconteceu, deu tudo certo – lembra Elson.
O
time campeão da Série B e que teve só três derrotas em 35 jogos deu trabalho.
Não só para os adversários, mas também para o técnico Jair Picerni.
Éramos
quatro muito próximos: eu, Diego Souza (ex-meia prata da casa), Vagner Love e
Lúcio (ex-lateral-esquerdo). A gente aprontava bastante. Picerni sempre passava
um pano pra esse quarteto aí. Muitas vezes, a gente ia concentrar até dois dias
antes para dar uma segurada porque a gente era danado, tanto dentro quanto fora
de campo.
O
carinho do torcedor palmeirense com Elson cresceu após o acesso, mas ficou
ainda maior quatro temporadas depois, quando ele defendeu as cores do Goiás em
2007.
Na última rodada do Brasileirão daquele ano, o Goiás
recebeu o Internacional precisando vencer para não ser rebaixado. E ainda
torcendo por um tropeço do Corinthians contra o Grêmio, o que aconteceu (1x1).
A
equipe colorada saiu na frente, mas Elson empatou. E o mesmo Elson fez o gol da
virada, depois que Paulo Baier perdeu duas cobranças de pênaltis seguidas – o
goleiro Clemer havia se adiantado.
Paulo
Baier estava nervoso, não sei o que estava acontecendo, mas acabou errando
aqueles dois pênaltis. Aí ele chegou para mim: "Assume você aí...".
Consegui bater e fazer o gol que salvou o Goiás e deu o descenso ao Corinthians
– lembra Elson.
Até
hoje muitos palmeirenses, mas não só palmeirenses, eu vou nos lugares e as
pessoas: "Olha o cara que rebaixou o Corinthians". Tiram fotos e tal.
Ficou marcado realmente.
O
amigo Vinícius, torcedor do São Paulo, foi o responsável por ensinar futevôlei
para o ex-jogador profissional de futebol.
Não
tive esse prazer de vê-lo jogar no meu time, mas tive o prazer de ver aquele
golzinho dele de pênalti que jogou o Corinthians lá pra baixo. Agradeço muito
ele por esse dia. Foi o maior gol da vida dele, mesmo não sendo pelo meu time –
brinca o amigo.
Conselhos de São
Marcos
Ainda
em 2005, depois de duas temporadas com a camisa palmeirense, Elson foi vendido
para o Stuttgart, da Alemanha. Mas, apesar dos quatro anos de contrato com o
time alemão e dos 17 anos de carreira, o meia não conseguiu fazer um pé de meia.
Hoje
ele admite que teria feito diferente se pudesse voltar no tempo.
Teria
guardado mais, né? Pensado um pouco mais no futuro – diz.
A
vida cobra, né, cara? E eu tive vários conselhos. O próprio Marcão falava, eu
até lembro, e ficava comprando vários apartamentos. Eu ficava olhando... E,
devido a algumas circunstâncias da vida, a gente foi fazendo coisas erradas e
acabou pagando por isso.
Segundo
Elson, a crise financeira que o fez perder muito dinheiro foi consequência dos
gastos excessivos com noitadas, "amigos" interesseiros e do divórcio
com a ex-esposa.
Fonte globoesporte 04-06-2023
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