sábado, 26 de novembro de 2011
Morar na avenida Vieira Souto em Ipanema
Endereço: Avenida Vieira Souto, Ipanema, Rio de Janeiro. Podem existir outros endereços tão bons, outros tão charmosos, outros com vista tão maravilhosa. Mas nenhum é, ao mesmo tempo, tão bom, tão charmoso e tem vista tão maravilhosa quanto a Avenida Vieira Souto, a "rua da praia" de Ipanema. Morar na Vieira Souto traz implícito um estilo único de vida, que mistura descontração e status, grifes com chinelos de borracha, vidros blindados e água-de-coco. Um apartamento com vista para a eterna e sublime paisagem natural e para a mutante e curiosa paisagem humana custa entre 3 milhões e 18 milhões de reais; a taxa de condomínio média bate em 4 000 reais. "Ela continua sendo a mais charmosa e a mais cara avenida do país", exalta o incorporador Marcus Cavalcanti. Existe outro mundo nos doze quarteirões dessa rica passarela estendida ao longo de 2,2 quilômetros em linha reta, com 800 cobiçados endereços. Por ela, um punhado de gente com sobrenome cinco-estrelas, e os correspondentes cifrões, vai ao supermercado e passa pela livraria, anda de tênis e bermuda no calçadão, joga futevôlei e mergulha no mar – gente com assinaturas como Moreira Salles, Gerdau, Marinho, Almeida Braga e Monteiro de Carvalho. São os tradicionais. Em geral discretos, com horror a aparecer, dão passagem à festa dos emergentes. "Surgiu uma nova geração com dinheiro na mão", explica Cavalcanti. "O perfil atual do morador da Vieira Souto é jovem e empreendedor, no comando de negócios diversificados."
O retrato mais emblemático dessa nova geração é o empresário Alexandre Accioly. Falido no Plano Collor e enriquecido dez anos depois ao vender a Quatro/A, então a maior empresa de telemarketing da América Latina, Accioly aplicou em Ipanema boa parte do caminhão de 420 milhões de reais com que saiu do negócio. Num raio de 600 metros de seu apartamento no legendário Edifício Cap Ferrat, montou uma rede de restaurantes, academias de ginástica, imóveis, empresas de shows e de venda de ingressos e até uma rádio. "A avenida está num quadrilátero de alto poder aquisitivo, por onde circulam as classes A e B do Rio de Janeiro. Os ricos têm medo de atravessar o túnel para ir à Barra da Tijuca e ficam por aqui", diz o empresário de 45 anos, trinta dos quais vividos em Ipanema. De seu apartamento, com esplêndida vista para a praia e as Ilhas Cagarras mar adentro, planeja uma tacada atrás da outra. "Já tenho a terceira maior rede de academias do país", informa. "Quero abrir capital na bolsa de valores em 2008." Ele mora sozinho, mas comprou um apartamento lá perto para Astrid Monteiro de Carvalho, mãe de seu filho, Antônio (sabido e reconhecido quando já tinha 1 ano de idade). O próprio Cap Ferrat é símbolo das transformações da Vieira Souto. Até o fim da década de 1970, a avenida era pontilhada de pequenos prédios de no máximo quatro andares. Durante muitos anos, apenas dois edifícios destoaram no bucólico cenário de beira-mar: o Castelinho, capricho neomourisco do cônsul sueco Johan Edward Jansson inaugurado em 1904, e o JK, construção de cinco andares cujo tríplex serviu de residência ao presidente Juscelino Kubitschek e sua família pouco antes do advento de Brasília. A Vieira Souto de hoje começou a nascer quando a saturação de Copacabana levou a expansão imobiliária ao que era até então um pacato bairro de praia. As construções originais que não deram lugar aos prédios de fachadas envidraçadas, típicas da época, foram reformadas e adaptadas. "Em alguns edifícios não existia garagem e a tubulação estava apodrecida", recorda o arquiteto Bertoldo Pogrebinschi, que desembarcou com seu escritório no bairro em 1975. Há até hoje casos irremediáveis. Inaugurado em 1973, o Hotel Sol Ipanema – pioneiro dos seis únicos estabelecimentos não residenciais da Vieira Souto – tem dezesseis andares e nenhuma vaga de garagem. "Os manobristas formam filas que deixam o trânsito ainda mais caótico", queixa-se Carlos Magno da Rocha de seu ponto de observação privilegiado: o quiosque Quase Nove, de nome auto-explicativo (quase Posto 9, claro).
Na calçada, em cadeirinhas de plástico, Rocha bate papo e empresta discos para Maurício Sherman, diretor da Rede Globo. "O Braguinha passa por aqui e faz uma pausa para tomar água-de-coco", diz Rocha, com carioca intimidade, sobre o banqueiro aposentado Antonio Carlos de Almeida Braga, dono de um apartamento de cobertura na avenida onde fica quando não está em sua maravilhosa quinta em Portugal. O movimento de famosos, que no bairro são tratados quase como gente comum, se reproduz em pontos célebres como a Livraria da Travessa, na Rua Visconde de Pirajá. "A Fernanda Montenegro já vem com uma listinha pronta na mão, dizendo o que quer, título por título", orgulha-se um dos donos, Rui Campos. Investidas comerciais na Vieira Souto raramente deram certo. Sobrevivem os hotéis Sol Ipanema e Caesar Park, a Casa de Cultura Laura Alvim e o restaurante Barril 1800, que parece estar lá desde o ano correspondente. Na confluência com o Arpoador está o recém-inaugurado Hotel Fasano. Na esquina com a Farme de Amoedo, fazendo jus à fama de ponto micadíssimo, a butique de luxo Espaço Lundgren fechou as portas. Outro sinal do peculiar universo da Vieira Souto, onde madame anda em carro de vidro escuro, sim, mas também passeia a pé com os filhos: o salão de cabeleireiros Prima Qualitá instalou um lounge para babás e outro para motoristas. No clima de violência que é particularmente ressonante no Rio de Janeiro, os prédios da avenida reservam boa parcela do condomínio para bancar o aparato de segurança. Os mais novos têm elevadores digitais, vidros blindados, sensores de presença, câmeras e circuitos internos de TV. Há três postos da Polícia Militar ao longo da orla, sendo um bem em frente ao Cap Ferrat. "Atrás da avenida, só na Rua Visconde de Pirajá, existem mais de 2 500 câmeras de vigilância nas lojas", diz o presidente da Associação Comercial de Ipanema, Carlos Monjardim. Ainda assim, os boletins de ocorrência da PM entregam o bairro como recordista de assaltos e roubo de carros na Zona Sul.
O cotidiano da Vieira Souto, cujo nome é homenagem ao engenheiro que projetou as ruas quando o bairro foi urbanizado, no fim do século XIX, é coalhado de estrelas. Caetano Veloso durante anos morou com a empresária Paula Lavigne, mãe de seus filhos Zeca e Tom, num apartamento de 750 metros quadrados no Edifício JK. Com a separação, em 2004, instalou-se a 100 metros da mulher e dos filhos, num flat com um décimo do tamanho (suíte, quarto, cozinha e banheiro) no apart-hotel Residence Service, onde mora também seu ex-sogro, o advogado Arthur Lavigne. Mas não adianta procurá-lo na praia ou no calçadão: Caetano troca o dia pela noite e simplesmente não dá as caras pelas redondezas. A viúva de Tom Jobim, Ana Lontra, e a filha, a universitária Luiza, moram na Vieira Souto, ao lado do Caesar Park. A mais arredia personalidade da avenida é provavelmente Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central no governo Figueiredo, agora professor da Fundação Getulio Vargas, que vive recluso e sozinho num apartamento de 400 metros quadrados. "Não fala, esconde-se e odeia para o resto da vida quem revela seu endereço", diz um amigo, implorando o anonimato. "Tem pavor de violência, assalto e seqüestro." Todo mundo parece estar por dentro das intrigas, como as que envolvem os herdeiros do médico Guilherme Romano, ex-dono do Hospital Santa Helena. No centro está o tesouro que deixou no alto da esquina com a Rua Vinicius de Moraes. "É uma cobertura única em toda a avenida", revela um conhecedor do mercado. "Tem 1 500 metros quadrados, um jardim com grandes árvores, ocupa a laje inteira e custa 15 milhões de reais." O ex-deputado Sérgio Naya (construtor do Palace II, o prédio que virou pó na Barra da Tijuca) foi desalojado pela Justiça e seu apartamento de 660 metros quadrados do Cap Ferrat acabou num leilão. No mesmo Cap Ferrat, os moradores testemunharam um episódio constrangedor no réveillon de 2005o empresário Vittorio Tedeschi, em prisão domiciliar por envolvimento com fraudes na venda de medicamentos a hospitais públicos, convocou amigos e deu uma festa de arromba, regada a champanhe, com oito policiais na porta.
Mesmo com o impacto da violência e a inexistência de espaço para novos lançamentos, a Vieira Souto continua a ser um ímã para sobrenomes famosos. O presidente do Unibanco, Pedro Moreira Salles, acaba de comprar uma cobertura na esquina com a Farme de Amoedo. André Esteves, do banco UBS Pactual, e o ex-comandante do Banco Bozano Simonsen, Júlio Bozano, estão entrincheirados no inevitável Cap Ferrat. Em matéria de nomes globais, o diretor Sherman está instalado perto do Posto 9, Fernanda Montenegro e o diretor de jornalismo Carlos Henrique Schroeder moram nas imediações do Caesar Park. José Roberto Marinho vive numa cobertura próxima à Teixeira de Mello. Para quem se interessar em entrar na lista, o melhor caminho é procurar o Banco Central. "O Henrique Meirelles está vendendo um apartamento de 350 metros quadrados na esquina da Vinicius de Moraes", diz, sobre o presidente do BC, um corretor especializado em imóveis de luxo da Zona Sul carioca. Restam também algumas unidades do prédio de seis andares, ainda na planta, que surgirá no último terreno da Vieira Souto, esquina com a Epitácio Pessoa, onde funcionou durante décadas o lendário Postinho (de gasolina). A cobertura, de 1 000 metros quadrados, sai por 16 milhões de reais. A vista, a vizinhança e a diversão estão incluídas no preço.
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DEUS NA PRÓXIMA ENCARNAÇÃO ME FAÇA NASCER RICO E REALIZAR O SONHO DE MORAR NA VIEIRA SOUTO!!!
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